top of page

Entrevista a medio Brasileño: Entrevista com Facundo Alvanezzi, renomado formador de atletas.

  • Facundo Alvanezzi
  • 6 jun 2020
  • 8 Min. de lectura

Link al medio original Futebol Com Amor:

https://www.futebolcomamor.com.br/2020/05/27/entrevista-com-facundo-alvanezzi-renomado-formador-de-atletas/

No Brasil vivemos, desde 2014, um questionamento geral no jogo e nos treinadores brasileiros, principalmente depois do efeito Jorge Jesus no Flamengo.

Porém, há aqueles que vão mais a fundo e questionam a origem de tudo que é a formação do atleta, não apenas como jogador, mas como homem.

Por isso, o site Futebol com Amor conversou com um dos profissionais mais renomados da área de formação de jogadores, Facundo Alvanezzi.

Ex-jogador, o argentino não mede esforços ao falar de sua paixão por formar tanto o atleta quanto a pessoa.

Facundo foi responsável pela formação de atletas do FC Basel da Suiça, uma potência nacional que sempre disputa torneios europeus.

Em uma entrevista muito agregadora ele nos passou a sua visão sobre a área, comparando América do Sul e Europa e ainda revelou o desejo de trabalhar no Brasil.

Olá Facundo, muito obrigado por falar conosco. Primeiramente, nos fale um pouco sobre como foi que iniciou no futebol até se tornar formador de atletas.

"Meu começo com esse maravilhoso jogo foi em minha cidade, Bragado. O campo deu início, na minha infância, aos sonhos de jogar e descobri a minha essência criativa. Ali se deu origem ao jogador que veio anos depois. Tive o privilégio de jogar na Argentina, Itália e Suíça, onde minha evolução foi moldando o jogador e, estruturalmente, a pessoa. Construí a minha vocação pelo ensino desde jogador e comecei a gerir de forma autodidata o meu desejo de transmitir ideias sobre esse jogo apaixonante quando já estava terminando minha carreira. Me fascinou ser um lapidador de diamantes para moldar os jovens. Devo dizer que a imersão paulatina me ensinou na “tentativa e erro” para aprender que a repetição é o melhor caminho para chegar à elite.”

Sobre o seu tempo no FC Basel, como surgiu a oportunidade e como foi a sua adaptação à Suíça?

“Meu tempo no FC Basel foram anos muito extensos e vitais na minha vida. O clube é conhecido como a pequena Masia suiça, pela qualidade dos seus jogadores e formadores com vasta experiência na elite europeia. A minha chegada foi através de um grande amigo e scout do clube (Néstor Subiat) que me propiciou um ótimo estágio de aperfeiçoamento. Passado o tempo de aprendizagem valiosa, Marco Otero (Diretor da base), brilhante formador e meu mentor profissional, decidiu me incorporar à comissão técnica no ano de 2008, onde minha função foi a de treinador específico da parte técnica com as diversas categorias. Minha adaptação foi de superação porque extraiu de mim um potencial cultural, humano e profissional excepcional. Me dei conta que minha introspecção e interioridade espiritual era consequência de uma adaptação estonteante não apenas aos métodos de treinamento, mas a um novo linguajar esportivo, social e cultural para estar à altura das circunstâncias. Adiciono com ênfase que a sociedade europeia, em especial a suíça, melhorou minha cultura e integração a um mundo avançado.”

Quais são as diferenças que mais te chamaram a atenção dos jovens argentinos para o resto do mundo? Perguntamos isso, pois cremos que o FC Basel trabalha com jovens de origens diferentes.

“Considero as maiores diferenças entre um jogador argentino/brasileiro e europeus a mentalidade competitiva e de superação que temos em nossos genes e a gana de sair de uma sociedade que se não for pelo futebol, está condenada ao esquecimento!!! O jogador argentino é muito forte mental e fisicamente, pois ele se adapta aos diversos estilos de vida e de jogo. Enquanto o europeu decide mais tarde se quer ser jogador ou não. Me encantou trabalhar com as diferentes etnias, culturas, línguas e aspectos funcionais para interagir e aprender, evoluindo com eles. Devo enfatizar que aprendi e aprendo todos os dias com os jogadores jovens.”

É cada vez mais comum que os clubes europeus paguem alto por jogadores de 16,17,18 anos para terminar a sua formação na Europa.

Aqui no Brasil tivemos os exemplos de Vinícius Jr., Renier e Rodrygo, que foram para o Real Madrid, sem ter muitas partidas pelas equipes profissionais de seus clubes.

Isso poderia ser uma visão da Europa, que a formação na América do Sul é pior? O que você acha disso?

“Minha visão amplificada e sedimentada entre América do Sul e Europa me permite responder baseado na vivência. O europeu aproveita o seu poderio econômico para levar muito cedo as joias sul-americanas, mas isso não quer dizer que aqui não se forme adequadamente os jovens. Aqui lhe damos valor à criatividade e liberdade que os europeus restringem em muitos aspectos, motivo pelo qual são muitos os que não se adaptam a esses estilos e retornam. Aqui trabalhamos mais com a criatividade, enquanto na Europa é mais sobre a tática e estratégia no seu conjunto”.

Aqui no Brasil temos um grande problema com os jogadores que deixam a escola muito jovens para jogar futebol, e ainda novos e sem muita instrução viram o pilar financeiro da família, o que faz com que muitos não suportem a pressão.

Como funciona a educação e o acompanhamento psicológico na Argentina e na Suíça?

“Existe uma grande diferença entre América do Sul e Europa. A Argentina não é diferente do Brasil em relação à pressão sobre os jovens. Eles viram a salvação financeira da família muito novos, quando seu nível de amadurecimento e desenvolvimento, não encaixam com uma realidade para serem chefes de família. A pressão os sufoca sendo o futebol um caminho muito estreito e curto onde poucos chegam. Dou ênfase que sem uma formação escolar/universitária adequada, o futuro pode ser difícil para prosperar. Eu sou muito exigente com a escola, elemento fundamental para levar uma vida calma e cheia de certezas. Digo mais: todo projeto educativo e esportivo deve dar um grande tempo para ensinar aos jovens a se sustentar.”

Depois que o Brasil perdeu de 7×1 para a Alemanha, na Copa de 2014, se falou muito que todos os profissionais tinham que se reunir para discutir o futebol brasileiro. Seis anos depois, a única mudança verdadeira foi a vinda do português Jorge Jesus, que em menos de um ano mudou radicalmente a forma de o Flamengo jogar, ganhando um Brasileiro e uma Libertadores. Por esta razão, os profissionais brasileiros são cada vez mais questionados.

Como os profissionais de futebol são vistos na Argentina? Há algum tipo de questionamento?

“Essa pergunta chama a reflexão em nós treinadores, para unificar os conceitos estruturais com um programa de desenvolvimento. Na Europa se deram conta por volta do ano 2000 que deviam mudar e suas federações realizam um trabalho em conjunto com os clubes para que exista uma integração na hora de treinar e jogar, tudo em benefício da suas respectivas seleções. É lógico o questionamento! Sem isso, não tem futuro nem mudança. No meu país a confusão é evidente, motivo pelo qual eu me desenvolvi dentro de uma federação como a suíça, onde ordem, organização, disciplina e projeção são motivos de orgulho. Deveríamos seguir o exemplo de Espanha, França. Bélgica, Alemanha, Holanda, Inglaterra, citando apenas algumas. Acrescento uma frase de Sócrates que se encaixa: ‘O segredo da mudança é focar toda a energia não na luta contra o velho, mas na construção do novo’. “

Você já teve propostas para trabalhar com a categoria profissional? É algo que gostaria?

“Eu recebi várias propostas para trabalhar com as equipes profissionais, mas eu tenho um profundo amor e apego pela formação. Considero, como disse Johan Cruyff, a tarefa mais difícil de realizar pelo seu nível de ensinamento. Também considero uma plataforma mundial fazer bases sólidas para que, por exemplo, um grande treinador como Jorge Jesus, Scolari, Luxemburgo, Tite e mais um monte, tenham ferramentas de luxo para realizar um excelente laboratório. Isso me faz permanecer na formação, aqui encontro minha expressão máxima sendo austero com os resultados da competência e valorizando o erro como a chave do processo de aprendizagem. Por isso desejo permanecer nesse segmento.”

Consideraria trabalhar no Brasil? Já esteve aqui?

“Seria um privilégio imenso poder colaborar com um futebol de tanta história e prestígio mundial, de onde surgiram jogadores brilhantes e treinadores excelentes que adoraria conhecer. Não conheço o seu país, mas me falam maravilhas. Brasil é um país que faz um culto de seu futebol, músicas e tantas coisas mais. Por isso trabalhar em uma categoria de base importante seria inovador e de muita aprendizagem para mim. Brasil seria um destino sonhado.”

Você tem ideia do por que jogadores e treinadores argentinos vem trabalhar no Brasil, mas quase nenhum brasileiro vai para a Argentina?

“Eu acho que é pela capacidade de adaptação e o desejo constante de superação. Jogadores e treinadores argentinos são muito competitivos e no seu futebol encaixam muito bem pela sua qualidade futebolística. Eu ficaria feliz em ver treinadores e jogadores brasileiros no meu país, fariam muito bem pelas condições universais que possuem. Porém o poderio econômico do seu país faz com que seus profissionais permaneçam aí..”

Quais são os materiais sobre formação de jogadores que você indica para quem quiser se aprofundar mais no tema?

“Mais do que recomendar sou de sugerir, devemos aprofundar sobre o ensinamento e uma metodologia mista, flexível e autônoma entre a técnica, a tática, a estratégia e sobretudo, a análise e compreensão do jogo desenvolvido de forma íntegra. Os jogos de posse e posição devem ser o motor do ensinamento junto com os rondos e a técnica refinada para driblar, passar, controlar, lançar e a armação inteligente do jogo para competir na elite.”

Durante muitos anos o Brasil usou o tecnicismo, o que muitos defendem, pois nos deu cinco Copas do Mundo, mas em épocas atuais é considerado como mais efetiva a descoberta guiada, popularizada por José Mourinho.

Qual é a metodologia para formar atletas na Argentina e qual você mais usa?

“Gostaria de falar sobre o método GAG (Global, Analítico, Global) que desenvolveram na Suíça em conjunto com um mix da metodologia das categorias de base do Barcelona. Ele se efetua treinando e jogando sempre com a bola, os espaços proporcionais, os jogos de posse e posição e as velocidades mentais dos jogadores que produzem a mudança de jogadas em fração de segundos. Só ali, o jogador descobre onde driblar, passar, triangular e um interminável desenvolvimento de recursos que vão surgindo à medida que crescem e avançam, nas respectivas categorias até chegar ao profissional. Não me identifico com a metodologia argentina que utiliza pesos e o trabalho físico como prioridade. Lembro que cresci jogando em um campinho onde a escola era a rua. Assim vocês foram campeões do mundo 5 vezes e com jogadores brilhantes como Pelé, Garrincha, Tostão, Rivelino, Rivaldo, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos, Cafu e uma lista interminável de jogadores que jogavam brilhantemente.”

Tem alguma coisa que não perguntamos que você ache relevante ser dito?

“Gostaria de deixar alguns pensamentos de modo a facilitar minha última obervação: a iniciativa para aprender e evoluir pertence a todos nós como sociedade. É um âmbito intelectual que devemos cultivar para gerir melhor os treinamentos, as partidas e toda a sociedade. Crescer para mim, significa aprender e transformar em uma versão melhor de si mesmo. Isso implica na tomada de decisão, como uma busca incessante da criatividade humana na sua evolução universal e pessoal. Não basta apenas aprender e formar, devemos evoluir na busca da excelência humana e esportiva, sendo vital ter memória, assim se aprende que quanto mais memorize e recorde o jogador e o indivíduo civilizado, melhor poderá atuar e se relacionar com o mundo que os cerca.”

A Equipe FCA agradece a disposição do professor Facundo em nos responder de forma tão enriquecedora e o parabeniza pelo seu excelente trabalho junto aos jovens atletas.

 
 
 

Comments


bottom of page